quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A Magia dos perfumes.







A palavra perfume deriva do latim "per fumum", que significa "pela fumaça". Pois foi justamente pela fumaça que os nossos ancestrais primitivos tomaram conhecimento dos perfumes que exalavam das florestas em chamas. Antes mesmo de dominar o fogo, o homem sentiu os cheiros que algumas árvores com troncos odoríficos, como o cedro e o pinheiro, soltavam no ar. Depois, quando o fogo foi dominado, o homem deliberadamente passou a queimar madeiras e folhas para sentir o aroma que lhe agradava, assim como durante as oferendas aos deuses.
A história do perfume, que caminha junto com a trajetória do homem desde tempos imemoriais, no início se confunde com a do incenso. O uso de essências aromáticas aparece em relatos bíblicos desde o Velho Testamento. Em sinal de gratidão por ter sido salvo do Dilúvio, Noé teria queimado madeira de cedro e mirra, mesma substância oferecida de presente ao Menino Deus pelos Reis Magos. Conta-se que o Bálsamo da Judéia atraiu o Rei Salomão para a Rainha de Sabá e que a rainha Cleópatra seduziu Marco Antônio atraindo-o para a sua galera cheia de velas perfumadas.

A invenção dos perfumes também é atribuída aos deuses do Olimpo (mitologia grega), que emanavam aroma de ambrosia quando visitavam os mortais, um sinal de sua natureza divina. Em contrapartida, os simples mortais se utilizavam de perfumes para obter a clemência dos deuses. Ainda de acordo com a mitologia grega, o perfume foi criação de Vênus. "Certa vez, a deusa da beleza teria ferido o dedo e deixado cair uma gota de sangue sobre uma rosa. Cupido, o deus do amor, com um beijo na flor teria selado a alquimia, transformando o sangue em fragrância." Todos os templos da Babilônia, Assíria, Egito, Roma e Grécia tinham seus perfumistas. Os mais antigos frascos de perfume que se tem notícia datam de 5000 a.C., eram fabricados na Mesopotâmia e no Egito com alabastro e pedra, por serem os materiais preferidos, devido a não serem porosos.

Registros históricos afirmam que a Babilônia queimava 26 mil quilos de incenso por ano para acalmar a fúria dos deuses. Acreditando que os aromatizantes garantiam a eternidade do corpo e do espírito, os antigos egípcios usavam essências perfumadas no ritual de embalsamamento. Testemunhos das primeiras profanações dos túmulos dos faraós afirmam que os ladrões procuravam as essências utilizadas na mumificação, fazendo pouco caso das jóias e objetos de ouro. Também os egípcios preparavam uma mistura de madeira, cujos componentes - o benjoim e o galbano - eram triturados e aglutinados com a mirra e o azeite de oliva. Queimavam esta mistura nos rituais. Esta mesma composição teria sido usada pelos hebreus e relatada na Bíblia, no livro Êxodo - Cap.30, V. 1 e 7: "Farás também um altar para queimar os perfumes; e Aarão queimará sobre ele um incenso de suave cheiro."
Os gregos foram grandes perfumistas, se valendo das essências de plantas aromáticas tanto para o prazer, como para cuidar de doenças. Com os imperadores romanos o uso dos perfumes cresceu, sendo célebre a história do cavalo de Calígula que se banhava todos os dias com água perfumada. E os sacerdotes romanos reforçavam seus pedidos aos deuses enviando aos céus fumaça odorizada, ou "per fumum". No mesmo lugar onde foram encontrados os Manuscritos do Mar Morto - as grutas de Qumram -, os escavadores encontraram 50 mililitros de um líquido oleoso e avermelhado bem guardado em um frasco de argila da época do Rei Herodes. Trata-se do único vestígio concreto do perfume que encantava os imperadores romanos. 
Foi na Índia e na Arabia que surgiram os primeiros mestres perfumistas. Os árabes não só compreendiam e apreciavam os prazeres dos perfumes, mas também tinham conhecimentos avançados de higiene e medicina. Eles produziram elixires partindo de plantas e animais com propósitos cosméticos e terapêuticos. O médico Avicena (980-1073) descobriu, por acaso, os princípios básicos da destilação a vapor. O primeiro desodorante apareceu no Egito, feito com mirra, incenso, alecrim e tomilho. Os gregos deram continuidade à pesquisa do perfume e desenvolveram o processo de destilação de óleos aromáticos. 
Um século após o nascimento de Cristo, já estava em expansão o comércio de essências perfumadas, que se iniciou com os árabes. Levavam para os países do Ocidente noz moscada do Tibete, sândalo da Índia e cânfora da China. Os romanos deram destaque a estas essências desenvolvendo a arte dos banhos e massagens eróticas. No Oriente, os perfumes sempre tiveram uma forte relação com as práticas espirituais. Desse modo, a história do perfume está ligada, inicialmente, a uma sensualidade primitiva; depois Divino e místico e queimado no altar de todas as religiões; de novo profano retorna como sedução e adorno, reservado a uma elite.
Desde a antiguidade, os perfumes estiveram sempre ligados à nobreza e à aristocracia, principalmente devido às dificuldades técnicas para obtê-los. Com o correr dos séculos, o perfume foi perdendo seu caráter religioso e ganhou um cunho profano, fazendo parte dos jogos de sedução nas cortes. Catarina de Médicis, quando partiu de Florença para casar com Henrique de Valois, futuro Rei da França, em 1522, trouxe dois perfumistas incumbidos de procurar durante a viagem uma vegetação similar a de Toscana. Encontraram, no sul da França, na região de Provence, a aldeia de Grasse, com suas colinas, rosas e jasmins. Foi assim que nasceu a cidade dos perfumes. Logo a reputação dos perfumes de Grasse conquistou Paris e, depois, toda a Europa. Em 1850 a cidade já contava com 50 perfumarias. Ficou rico e famoso o perfumista de Maria de Médicis (1573-1642), René le Florentin, no século XVII. Na corte do Rei Luís XV o protocolo obrigava o uso de um perfume diferente para cada dia da semana. Napoleão Bonaparte despejava, todas as manhãs, um pequeno frasco de colônia em sua cabeça A Imperatriz Josefina, que vivia envolta em uma nuvem de almíscar, reuniu os maiores perfumistas do século XIX. Foi neste século que surgiram os perfumes fortes à base de essências florais. Inicialmente eram baseados em tinturas de benjoim, vétiver, baunilha e patchouli. A mulher de Napoleão III, a Imperatriz Eugênia, fez o perfume entrar definitivamente em moda na França. 
Além do segredo guardado a sete chaves das fórmulas dos perfumes, era grande a dificuldade técnica para produzi-los antes da industrialização. Para se ter uma idéia, são necessárias cinco toneladas de rosas para se conseguir um quilo de óleo e é preciso quatro mil quilos de pétalas de jasmim para se conseguir apenas trinta gramas de solução concentrada. Muitas outras matérias primas usadas na formulação dos perfumes vêm do mundo animal: o castoréum provêm do castor macho da Rússia, Sibéria ou Canadá; o âmbar (não confundir com a resina fóssil), que é uma secreção do cachalote, um cetáceo comum nas costas de Madagascar, e o almíscar, que é uma secreção do cio do gato-de-algália, ou almiscareiro, que vive nas montanhas da Índia, Birmânia, Mongólia, China e no Himalaia. Mas que ninguém pense que ainda se sacrificam esses animais para a obtenção da matéria prima; hoje existem excelentes substitutos sintéticos para essas essências. 
A industrialização popularizou o uso do perfume, embora algumas marcas continuem tendo preços proibitivos, o que valoriza o trabalho do perfumista. O equilíbrio das dezenas de componentes da fórmula de um perfume, alguns em doses tão ínfimas que os modernos processos de análises não conseguem determinar, fez com que o perfume entrasse no campo da arte. Artistas especiais, os perfumeurs criam verdadeiras obras primas, tão importantes como as pinturas dos grandes mestres ou a música dos grandes compositores. Só depois que a nova obra de arte é criada, a sua fórmula é fornecida para a fabricação em escala industrial. Os laboratórios são muitos importantes na indústria de perfumes, pois conseguiram sintetizar mais de quatro mil aromas da natureza. 
Muito embora o olfato seja o menos explorado dos cinco sentido, vivemos hoje num mundo perfumado, cercado de odores, o perfume está longe de ser apenas instrumentos das vaidades humanas. Nas nossas narinas concentram-se cerca de dez milhões de células olfativas, que enviam para o cérebro os diversos tipos de cheiros que nos cercam, e que são muitos: águas-de-colônia, sabonetes, xampus, variados cremes, desodorantes, detergentes, purificadores de ar, batom, ceras, papel higiênico, incenso, uma infinidade de produtos. E cada vez mais aumenta a importância das sensações produzidas pelos aromas. Os japoneses descobriram que aromas agradáveis melhoram o humor, reduzem a tensão e aumentam o rendimento no trabalho. No metrô de Paris o ar viciado foi encoberto por um suave perfume de violetas. Até na medicina o perfume se faz presente através da nova técnica da aromaterapia. 
No marcado de arte e antiguidades, o perfumeiro e o frasco de perfume antigo se tornaram itens de colecionismo, alguns deles alcançando preços inimagináveis. As fábricas de perfumes sempre se preocuparam em criar embalagens e frascos bem requintados. Isso porque eles sempre souberam que a apresentação visual é muito importante, pois assim como a moldura valoriza o quadro e a jóia é valorizada pelo porta-jóias, um perfume é ressaltado pelo frasco e tudo que o envolve. Os colecionadores de frascos de perfumes antigos vivem garimpando pelas feiras de antiguidades e antiquários atrás de peças raras, preferencialmente as que contenham a essência original.





A grande perfumaria francesa, baseada em composição elaborada de perfumes e extratos, data do final do século XIX, tendo atingido um grau de desenvolvimento magnífico!

Resumindo:
1880 - 1890
As formulações eram preparadas com uma única flor.
1889 - Começam as pesquisas para a preparação de sintéticos "mais naturais"
1900 - 1920
A virada do século e a eletricidade marcaram o início de uma nova era.
Madame Curie descobriu o urano, época em que os primeiros Zepelins atravessavam o céus...
É lançado o Chypre com aromas de patcholi e musgo que deram nome a várias famílias futuras, inspirando muitos clássicos nas décadas subseqüentes.
Como as mulheres desta época, os perfumes emanciparam-se. As mulheres começaram a trabalhar, apesar de estarem em funções subordinadas. 
ANOS 20
Época do Charleston e das novas notas olfativas para tentar acompanhar a evolução da moda. A década de 20 foi uma das mais criativas na área da perfumaria.
Nasceu Chanel nº 5, o primeiro perfume com materiais sintéticos. Aliás, ao que parece, um assistente do perfumista francês Ernest Beaux teria errado na composição da fórmula da fragrância encomendada pela figurinista Coco Chanel. Em vez de apenas 1% de aldeído undecilênico, a solução recebeu acidentalmente uma dose dez vezes maior. A fragrância resultante foi considerada extraordinária e deu início a um "boom" no uso dos aldeídicos na fabricação de perfumes. Outro mérito deste perfume foi reforçar a associação entre o uso do perfume e o jogo da sedução. A discussão ganhou fôlego na década de 50, quando a atriz Marilyn Monroe declarou que usava apenas uma gotinha de Chanel nº 5 para dormir.




ANOS 30
Notas orientais (misturas com baunilha) são o máximo da época e dá-se o retorno de algumas fragrâncias clássicas.
ANOS 40
Depois da Guerra, a esperança em tempos melhores fez com que surgissem as notas verdes, como que para despertar o aroma agradável e a paz dos campos. Lançam-se perfumes para mulheres sensuais
ANOS 50
Época do rock´n´roll e das fragrâncias mais comportadas.
ANOS 60
Em plena era de Woodstock, as notas florais e aldeídicas são predominantes em quase todas as criações.
ANOS 70
A grande descoberta da época foi a categoria dos orientais para as mulheres que gostavam de provocar.
ANOS 80
Época do consumismo. Surgiram os florientales. Houve um incremento dos perfumes florais doces.
ANOS 90
Características: fragrâncias leves e frescas. Temas mais importantes: água. Notas ozônicas: recordam a água, o mar ou o frescor perfumado de um pedaço de melão gelado.
ANOS 2000
Principais características: 
- Volta ao romantismo, florais / - Novos soliflorais / Novos aldeídicos / Novos Chypres / Novos orientais







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